Levada pela imaginação

Quando hoje pela manhã o despertador tocou, eu senti que algo não estava igual às outras manhãs.

Há já algum tempo, que o meu corpo não anda bem.(...)
Quando acordo as dores espalham-se pelo corpo de uma maneira insuportável, e o simples ato de sair da cama,
 por os pés no chão e levantar-me, tem-se tornado uma tarefa muito difícil, que só consigo realizar após alguns minutos, e depois de umas quantas tentativas.
Hoje, contrariando toda essa situação, acordei bem-disposta, com uma paz muito grande que me percorre todo o corpo, sem dor alguma, e com uma vontade muito grande de fazer qualquer coisa.
Aproveitando toda essa energia que já não sentia há algum tempo, levantei-me, e vim para o emprego, contente por nada me afligir, e sentir que ia ser um dia muito bem passado.
A minha alegria e boa disposição, começou a esvair-se aos poucos, dando lugar a uma grande preocupação assim que cheguei ao emprego. Por uma qualquer razão que eu não estava a conseguir entender, os colegas passavam por mim sem me cumprimentar, fingindo até que não me viam. Reparei que os seus rostos continham uma expressão de tristeza, e os seus olhares estavam cansados, como se a noite para eles tivesse sido de insónia.
Triste e frustrada, por não me darem a atenção que estava precisando, para lhes poder contar como me sentia contente, porque hoje eu não tinha dores e me sentia muito bem, sentei-me à minha secretária apreciando toda a azáfama em que os via envolvidos.
Vi que tinham comprado flores, muitas flores, e que combinavam para daí a pouco uma saída que não conseguia perceber onde era.
Comecei a ficar zangada com todos eles, pois, por mais gestos que fizesse para captar as suas atenções, o resultado era sempre o mesmo: minguem me dava a mínima atenção.
Está decidido, pensei, quando eles saírem para o lugar aonde estão combinando, irei atrás deles, quer queiram quer não.
Como uma criança a quem acabaram de negar um brinquedo, ali fiquei quieta, amuada, sem vontade nenhuma de olhar para ninguém, até à hora em que os vi levantarem-se todos, e dirigirem-se para os respectivos carros,
Corri o mais que pude, e como ninguém me dava a mínima atenção, desisti de falar com eles e entrei para o banco de trás do primeiro carro, antes que se fossem embora sem mim.
Como toda aquela situação, era para mim completamente esquisita, prestei atenção à estrada, tentando descobrir para onde estávamos indo. Não passou muito tempo para ver onde íamos, e aí a minha confusão cresceu ainda mais: o nosso destino era o cemitério, íamos a um funeral, mas de quem? Não me lembrava de ninguém nosso conhecido que tivesse morrido!
A resposta, veio da pior maneira possível, e eu não quis acreditar, quando a verdade se mostrou diante dos meus olhos: em cima do caixão, que no chão junto a uma cova acabada de abrir, aguardava o seu destino final, estava uma fotografia, a minha fotografia. Aquele era o meu funeral…

58 comentários:

  1. Ana, eis um conto com final trágico. Um bom conto.
    Um abraço daqui do sul do Brasil. Tenhas um bom dia.

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    1. Obrigada amigo por gostares...
      Um grande abraço para ti também aqui do sul.... de Portugal!!!

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  2. Oi Ana,

    O conto é muito interessante, envolvente e de cunho espiritual. Há casos assim, segundo o espiritismo, em que a pessoa desconhece seu estado atual de desencarnada. Deve ser mesmo uma situação impactante para ela ao constatar que não mais pertence ao mundo dos vivos. Já li muito a respeito.

    Beijo.

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  3. Fiquei, embora a meio tenha desconfiado,
    mas, repito, fiquei arrepiado.
    Muito bom, muito bem estruturado e com uma narrativa que encanto e nos leva num crescendo.
    Muito bom!
    Parabéns!
    Um abraço

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    1. Olá Manuel as tuas palavras são como um prémio depois de uma longa corrida....
      Muito obrigada amigo

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  4. Olá, Ana!

    Este texto, lindamente construído, deixa-nos como que aturdidos quando chegamos ao fim - que a dada altura já se deixava adivinhar:Mistura de surrealismo,humor negro,e ironia vestida de absurdo.E dizer mais do que isto é tentar adivinhar...
    É uma bonita peça de escrita; parabéns!

    Um abraço amigo
    Vitor

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    1. Obrigada Vitor!!!
      Apesar de nós quando escrevemos não termos controle sobre a nossa escrita pois ela flui livremente, é sempre gratificante ver que a reação de quem lê é positiva
      beijo

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  5. Interessante o desenvolvimento de seu conto, mas triste. Creio que a alma, ao se libertar, não percebe, de imediato, seu outro destino. E pode seguir a trajetória que traçou. Bjs.

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    1. De acordo com o que tenho lido sobre este assunto penso que por vezes se consegue criar um momento em que o espirito consegue "planar" sobre o corpo que deixou o que lhe provoca momentos de confusão....
      beijo amiga

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  6. A flor doa encanto ao corpo doendo, depois eleva às flores a outros passando, como se na vida doa-se as pétalas sem pedir nada em troca, reconhecemos que somos grandes já! abraços

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  7. Belo texto, porém triste, mas você escreve de um jeito todo especial que nos prende a atenção, fazendo-nos imaginar o que será e ei que você chega com um final nem imaginado por mim.
    Espetacular.Parabéns!
    Um abraço e muito obrigada por estar sempre por perto de mim, através dessa telinha mágica, bjs

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    1. É minha obrigação não abandonar nem por um minuto que seja os amigos... apesar de virtuais...
      Faço-o com muito gosto, muitas vezes não com a frequência que gostaria...
      beijo amiga

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  8. Olá; apesar de triste belo conto...Espectacular....
    Cumprimentos

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    1. Obrigada amigo.
      Nem sempre a vida é um eterno e lindo conto de fadas...
      Beijo

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  9. Olá, Ana
    Tenho visto comentários teus "por aí", e sentia vontade de conhecer o teu espaço. Calhou hoje...
    Estou encantada e feliz por ter vindo. É muito, muito interessante.
    Este último texto prende a atenção de princípio a fim. Espectacular!
    Vou me fazer tua seguidora e voltarei mais vezes.

    Beijinhos

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    1. Obrigada Mariazita pelas tuas palavras, fico muito feliz tanto por teres gostado do blog como da postagem
      também já te estou seguindo
      beijo

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  10. Querida amiga

    As palavras tristes,
    são comentadas
    pelas lágrimas...

    Que em teu coração,
    a alegria faça morada...

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  11. Olá, Ana!

    Não entendo a morte, seja de quem for, nem sequer, a literária.

    Beijo da Luz.

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    1. Pois....Não temos mesmo que entendê-la, somente aceitá-la quando ela chega, como um continuar de vida, mas duma maneira e num plano diferentes....
      beijo

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  12. Olá Ana, e que tudo esteja bem contigo!

    Acredito que não seja um sentir desejado, pois imagina não ter consciência da própria partida deste viver!

    Texto intenso e deveras apreensivo, e comecei a imaginar o final observando a imagem, pela falta de qualquer dor, e bem, sabemos que nós humanos não chegamos tão longe assim no dia sem que algo contrário aconteça.
    Apesar da temática mórbida, o escrito é muito bom, obrigado por compartilhar, agradeço também pelas generosas visitas e comentários e desejo que você tenha em teu viver esta intensa felicidade, em grande abraço e, até mais!

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    1. quão agradável seria que a nossas partidas assim acontecessem não era meu amigo?
      sem dor, sem medos, sem sofrimento...
      seria somente um adormecer profundo....
      beijo meu amigo

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  13. Todo dia é um dia diferente, as vezes parece que o dia vai ser igual mais sempre há uma mudança, a doença as vezes quer nos parar mais não podemos deixar. Ana te desejo um ótimo final de semana, beijos.
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  14. Ana, tu te superaste, um conto pra lá de perfeito na sua estrutura, muito bom mesmo!
    Não vejo isso como triste, é uma realidade que acontece todos os dias, pois a maioria dos seres viventes não tem conhecimento algum de como se processa essa passagem.
    Achei teu texto maravilhoso, sem rasgação de seda, pq tu já me conheces e sabes que não sou disso, parabéns amiga, beijos e bom fim de semana!

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    1. Obrigada Isa!!!!!
      Que felicidade quando alguem nos faz assim um elogio tão lindo...
      De facto quando escrevo eu gosto de deixar correr a imaginação... há quem o considere triste mas é o meu jeito...
      beijo amiga

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  15. ÓTIMO INTERAGIR COM VOCÊ. AMANDO SEUS TEXTOS

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  16. O despertador tocou
    Ana toca a levantar
    A boa vida acabou
    É preciso trabalhar!

    Obrigado amiga, pela sua visita. Estou aqui a desejar-lhe um bom fim de semana, e uma boa noite, de sonhos lindos.
    Um beijinho
    Eduardo.

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    1. obrigada meu amigo espero que o teu fim de semana também tenha sido positivo....
      beijo

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  17. ♪♫º♫♫º
    Olá, amiga!

    É um belo conto, você consegue, mas é tão difícil pensar no meu próprio funeral!...

    ღ°Bom fim de semana! ♪♫º
    ♪♫♫º Beijinhos.
    ♪♫º Brasil.♪♫♫º
    ♫♪•.

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    1. Pois é amiga as pessoas nunca gostam de encarar com naturalidade aquilo que todos nós mais dia menos dia temos que enfrentar...
      beijo querida

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  18. Um conto tão triste. Há muitos anos atrás sonhei que acordava e estava deitada sobre a lápide de uma sepultura sem nome e que seria a minha mais tarde.
    Bom domingo amiga.
    Beijinhos
    Maria

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    1. É amigo tenho lido algumas coisas sobre premonições que algumas pessoas têm, a mim pessoalmente nunca me aconteceu, mas acho deveres interessante...
      beijo amiga

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  19. uma certa twilight zone, o seu conto


    eu gosto do insólito


    um abraço

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  20. Oi Ani, vim lhe desejar uma ótima semana, beijos e fica com Deus!

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  21. Amiga, forte seu texto!! Totalmente sem fôlego e sem saber o que dizer..Abraços.Sandra

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  22. Um final inesperado...
    O teu conto é magnífico, gostei.
    Ana, querida amiga, tem uma boa semana.
    Beijo.

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    1. Os finais quase sempre sempre são inesperados, mesmo na vida real....
      Obrigada por gostares
      beijo

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  23. Minha querida!
    Sabes que tudo o que escreves soa a algo que ecoa dentro
    de mim? Uma certa nostalgia....
    Um conto envolvente, pela tematica, pelo teu estilo que nos prende até à ultima palavra. Msa não deixa de nos fazeres ficar a refletir, tal o realismo que soubeste impregnar a toda a história.
    E quero enviar-te flores mas para enfeitar os teus dias!
    Beijinho!



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    1. Obrigada amiga pelas flores, mas acima de tudo pelas palavras...
      A nostalgia é para mim um eterno estado de alma... que fazer??....
      Beijo grande amiga

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  24. Minha Querida

    Nos momentos de acalmia das dores, quase nos sentimos nesse estádio do tempo, pelo que o teu Conto se torna em algo que devemos reflectir seriamente.
    Um belo texto para uma interpretação particular.
    Gostei. Senti-me nesse caixão.

    Beijos


    SOL

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    1. Obrigada amigo penso que é muitas vezes esse o objetivo da escrita: fazer-nos refletir...
      Agradeço por demais as tuas palavras
      beijo

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  25. Passei por aqui, gostei do espaço, e fiquei.
    Beijo.
    Ana

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    1. Obrigada Ana fica o tempo que quiseres serás sempre muito bem vinda

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  26. Boa noite, Ana. Percebi logo que tratava-se do seu desenlace. Você escreveu muito bem.
    Deve ser agonizante não perceber-se morta.
    Espiritualmente, acredito que seja mais fácil de identificarmos a nossa morte e lutarmos a fim de revivermos.
    Quanto à matéria, não tem jeito, a missão aqui acaba e iremos para outro plano.
    Deve existir uma missão ao lado de Deus.
    Tenha uma tarde excelente e fique na paz!
    Beijos na alma!

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    1. É verdade este é um tema que ainda deixa muitas pessoas inseguras, sem saber que opinião ter....
      Mas infelizmente é a única certeza que temos na vida
      beijo querida

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  27. Ana minha querida, me deixaste sem poder respirar do prícipio ao fim da história, que até pode ser verdadeira eu até acredito.
    Não que tu tenhas morrido mas em casos muito semelhantes de pessoas assim como eu que fiquei 22 dias em coma, e dai que muita coisa esquisita se passou nesse tempo, não irei aqui relatar até porque tem pessoas que são plenamente seticas a estas coisas. O que para mim nada é banal e tudo tem o seu quê... de veracidade, beinhos de luz e muita paz na vida.

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  28. Acredito e respeito, tenho lido bastantes comentários acerca desse tema e há relatos que me deixam também com a respiração presa....
    Ainda bem que gostaste amiga obrigada
    beijo e bom fim de semana

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  29. Um conto muito terno e cheio de intensidade.
    As pessoas, não conseguem disfarçar a dor da perda de quem amam. Sentimos uma sensação de impotência e dor.

    Beijinho minha querida.

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  30. Gostei do teu estilo.
    Gostei de ti.
    Vou voltar com certeza.
    Abraço

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  31. OI ANA!

    SURPREENDENTE, BEM CONSTRUÍDO,ENFIM, ADOREI TEU TEXTO.
    TENS O DOM DA ESCRITA INEGAVELMENTE.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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