Caminhava saltitando, descalça na rua lamacenta. Ia feliz.
Não reparava que os seus pés iam pisando as poças de lama, fazendo um chapinhar melodioso e triste.
Sujos e gretados pelas longas(...)
caminhadas, eles não sentiam o frio nem o desconforto provocado por um chão castigado pelo longo Inverno chuvoso e que nunca fora asfaltado.
Não conhecia o conforto de uns sapatos ou o suave calor de umas meias de algodão.
Toda a sua curta vida tinha sido assim: vivida de acordo com os parcos recursos de que dispunha a sua família.
Mas isso não a impedia de ser feliz.
Ansiava somente por chegar a casa. Sabia que então seria recebida pelo reconfortante e quente abraço da sua velha, mas carinhosa avó.
Não se lembrava quando tinham ficado sozinhas, mas sabia que há muito tempo era ela que levava os bolinhos que a avó, com mãos trémulas e cansadas, fazia com a perfeição e a ternura que só ela sabia,para serem vendidos na loja do senhor Joaquim, às senhoras do Bairro Azul.
Aquele era mais um dia de tantos, em que ela caminhava com a cesta pela mão. Não lhe sentia o peso, já não. Esse já era um esforço a que estava rotineiramente habituada.
Talvez por isso não sentiu o carro que se aproximava, tão pouco ouviu o barulho da buzina.
Somente quando a água se levantou do charco onde repousava e a atingiu, molhando as suas roupitas, ela ouviu o som duma gargalhada trocista.
Levantou o rostinho surpreendido e assustado, ainda a tempo de ver uma figura infantil, de rosto emoldurado por cabelinhos loiros.Sentada no banco de trás de um luxuoso carro preto, conduzido por um senhor de bigode branco, boné muito direito na cabeça e um casaco com botõezinhos tão brilhantes que pareciam as estrelas que via à noite da janela do seu quarto, a criança olhava-a com maldade.
Não chorou quando sentiu o desconforto da água lamacenta nas suas roupas.
Encolheu-se e aceitou esse facto com o conformismo e a resignação próprios daqueles que estão habituados a encarar a vida com bravura, desencanto e realismo. E continuou o seu caminho.
Ela sabia que tinha que entregar a cestinha, com os doces da avó, na loja do Senhor Joaquim, para que as Senhoras do Bairro Azul os pudessem saborear com prazer.
Anacosta
Delicioso conto na teu regresso à tua casinha:)))
ResponderEliminarHá sempre dois mundos diferentes e há sempre um mais feliz. A felicidade é a menina fazer e viver como vivia e fazia. O menino não era feliz certamente, mesmo que pensasse que o era.
Beijinho
Para muitos é assim o que conta é mesmo a abastança quando na verdade a felicidade verdadeira muitas vezes nos é trazida de outras formas....
Eliminarbj
As adversidades, num coração feliz, são meros espetáculos graciosos! abraços
ResponderEliminarE facilmente ultrapassados....
Eliminarbj
Que conto tao lindo!
ResponderEliminarPara quem e forte, o que significa ser molhada quando chove?!!!(Peço desculpa,mas este computador nao acentua)
A vida continua e o mal,fica com quem o pratica...
Parabens pela sua narrativa. Retrata a realidade de algumas vidas.
Bom fim de semana.
Beijinho
Beatriz
Olá amiga tudo bem desde o final do ano?
EliminarEu também penso assim para os guerreiros, aqueles para quem a vida nunca deu facilidades, esse será um mero acidente de percurso!
Um beijo Beatriz e obrigada pela visita
Feliz regresso Ana, e percebo que regressou em sintonia com a escrita.
ResponderEliminarMuito lindo seu texto parabéns!
Bjsss
Obrigada Célia!!!
EliminarAs baterias recarregaram neste periodo de descanso!!!!
bj
Querida amiga
ResponderEliminarHá no texto
a metáfora preciosa
da esperança,
da luta e do sonho.
Muito verdadeira
a mensagem
e muito bem escrita,
com a simplicidade
que encanta e também inspira.
Desejo aos que amo, não bens materiais,
mas alegria...
A mais plena alegria...
Esperança, luta, sonho...
EliminarEsses são predicados obrigatórios para quem quer de verdade triunfar!!!
Muito obrigada por gostares
bj
Olá, amiga. Um belo exemplo de dignidade em um coração puro. Obrigada por partilhar tão bonito conto! Uma semana de paz e bençãos! Feliz com sua volta. Bjos!
ResponderEliminarEu é que agradeço estas tão lindas palavras de elogio amiga!!!
EliminarMuito obrigada
bj
Os dois lados da moeda... assim é a vida, de um a cara, outro a coroa. Olá amiga Ana hoje vim te fazer um convite - é um convite spam *risos*, mas como ainda tenho tantas casinhas a visitar não poderia deixar de ser diferente... Estou te convidando para participar das Bodas de Flores e Frutas da Ilha e minhas Bodas de Cristal nas ondas, posso contar com tua presença né? Beijos no coração, Luz e Paz!
ResponderEliminarClaro amiga!!
EliminarMas preciso de saber o que tenho que fazer. Fico aguardando!!!
beijo
Olá Ana, revi-me nessa história, na parte dos bolinhos da avó que eu ia entregar. Nunca andei descalça, pois a avó aproveitava as solas de borracha e fazia sapatos de cotim militar, (restos das calças do meu avô) com uma presilha e um botão ao lado. Beijos com carinho
ResponderEliminarPois esta não será bem a minha história mas de certa maneira também foi um pouco baseada nas vincadas desigualdades sociais pelas quais passei por exemplo no Liceu e olha que doíam bastante.....
ResponderEliminarbeijo amiga
Oi amiga, lindo conto!
ResponderEliminarTriste e muito tocante!
Beijos e tenha uma ótima semana, beijos!
Estive a ler e a ver não só esta postagem mas uma parte de seu blog,e gostei, dou-lhe os parabéns pelo blog por seu trabalho,pelo conto a felicidade no nosso interior, não pelas riquezas que se possui mas por aquilo que está enraizado no nosso interior, e obrigado por partilhar.
ResponderEliminarFicarei muito feliz se desejar fazer parte dos meus amigos virtuais,
decerto que vou seguir também o seu blog.
Deixo as minhas cordiais saudações, e muita paz.
Sou António Batalha.
É um belo conto, que mostra uma pessoa que sabe ser feliz com o pouco que tem e que não se atira em amarguras perante os constantes momentos tristes e difíceis da vida. Nos faz pensar.
ResponderEliminarNostalgico, simples, belo.
ResponderEliminarabraço
cvb
Boa tarde, Ana. Independente da situação social e econômica desfavorecida, uma pessoa pode ser feliz em seu coração, pois nele existe vida e amor
ResponderEliminarExemplo disso é a menina que com todas as dificuldades, compreendia a situação e era feliz.
Maldade existe em muitas classes sociais, mas sobretudo, nas mais favorecidas, que não são solidárias na maioria das vezes.
Se assim fosse, a menina rica não sentiria o prazer mórbido que sentiu ao ver a menina pobre repleta de lama caída ao chão, antes, a ajudaria de algum modo, se tivesse nela um nobre coração.
É claro que existem as exceções, e pessoas de poder aquisitivo considerável, não maltratam os menos favorecidos, mas os ajudam.
Beijos na alam e excelente dia de paz!
Saudades!
Viver já é uma dádiva amiga Ana. Minha querida hoje vim te fazer um convite - é um convite spam *risos*, mas como ainda tenho tantas casinhas a visitar não poderia deixar de ser diferente... Estou te convidando para participar das Bodas de Flores e Frutas da Ilha e minhas Bodas de Cristal nas ondas, posso contar com tua presença né? Beijos no coração, Luz e Paz!
ResponderEliminarOi Ana,
ResponderEliminarE como diz o ditado:
Não tem como um dia após o outro.
Quem fez essa barbárie com uma criança pobre e outras pessoas irá receber em dobro todas as maldades que fará na sua vida.
Beijos
Lua Singular
Hoje estou vivendo um momento muito especial na minha vida.
ResponderEliminarPor isso estou aqui convidando você para se alegrar com minha benção.
Tenho estado ausente porém hoje estarei
dedicando meu tempo que deveria estar em repouso
absoluto para me encontrar com você matar as saudades.
Com uma mensagem de uma data muito importante para mim
venho convidar você para buscar minhas lembranças desse dia.
Desejo lhe um abençoado final de semana
luz paz e Deus no seu viver.
Beijos com infinito carinho e amizade .
Evanir.Minha querida amiga Ana .
A vida muitas vezes é muito dura e o mundo em que estamos vivendo
muitas pessoas esqueceu de Deus minha querida.
Olá Ana
ResponderEliminarQuem vive a vida com otimismo é certamente mais feliz. Esta menina com certeza conhece o significado real da palavra AMOR. Maldade não faz parte da sua trajetória. É a vida nos dando grandes lições através dos teu soberbo escrito poético
Beijos e um domingo maravilhoso
Ana, uma história triste que envolve e toca o nosso coração. Parabéns pela sua imensa sensibilidade.
ResponderEliminarHoje venho numa fugidinha especialmente para pedir desculpa da minha ausência, mas tem sido um inicio de ano muito dificil com vários problemas de saúde na familia, encontrando-se agora, a minha mãe internada no hospital.
Os meus posts já foram feitos à algum tempo atrás, estão agendados e vão saindo, apenas tenho moderado comentários e por vezes nem isso consigo fazer diáriamente.
AGRADEÇO do coração as mensagens deixadas no meu cantinho, logo que seja possível, irei começar a fazer as minhas visitas habituais aos blogs dos amigos.
Beijinhos
Maria
Dizer o quê?
ResponderEliminarQue os teus contos , contam e encantam!
Tenho saudades. Beijos
Senti todo o encanto e magia destas palavras.
ResponderEliminarHá um encanto que nos deslumbra e uma mensagem que nos reconforta.
Magnifico!
Oi Ana
ResponderEliminarLer os teus contos é enveredar-se na magia das tuas exuberantes palavras. Deslumbrante!
“A amizade é fundamental em nossas vidas. Por isso agradeço a Deus pelas pessoas que ocupam um lugar especial em meu coração. Você é uma delas! Obrigada por seu carinho” E para estreitar os laços da nossa amizade estou lhe oferecendo um singelo mimo. Acesse aqui... http://gracitamensagens.blogspot.com.br/2014/01/o-valor-de-uma-amizade.html e pegue o seu. Tenha um lindo final de semana.
Beijos com afeto
Gracita