Estou dentro dos grandes sonhos da noite: pois o agora-já é de noite. E canto a passagem do tempo: sou ainda a rainha dos medas e dos persas e sou também a minha lenta evolução que se lança como uma ponte levadiça num futuro cujas névoas leitosas já respiro hoje. Minha aura é mistério de vida. Eu me ultrapasso abdicando de mim e então sou o mundo: sigo a voz do mundo, eu mesma de súbito com voz única. (Clarice Lispector)
Sons, Cheiros e Sabores da minha Cidade
Enquanto a lua ainda dorme
Enquanto o sol mal acaba de acordar
Passeio pelas ruas da minha cidade
Sinto o cheiro de uma azáfama matinal
Que sonolenta se mistura
Com a intensa maresia que do mar se desprende
Enquanto num vai e vem cadenciado
Gaivotas pairam no ar
E no café da esquina
Como que por encanto ou mero acaso
O doce cheiro a café convida-nos a entrar
Saboreando os cheiros que docemente pairam no ar
Mais ao longe onde a terra pega com o mar
Por entre o ruído de pregões matinais
É o cheiro de peixe que ainda saltitando nas redes
Até nós acaba de chegar
É uma mulher perfumada
Que vagarosamente desce a calçada
Uma criança que corre apressada
Será que o banho tomou?
E os dentes ela lavou?
Por entre sacos de roupa e pilhas de loiça suja
Pensa frente a uma chávena de café
A sua mãe preocupada
Percorro as ruas, as avenidas e os becos sombrios e estreitos
Onde abunda a roupa estendida nos beirais
É roupa de um branco imaculado
Lavada por mãos calejadas
Mãos que lavam, mãos que esfregam
Mãos que o tempo gastou
E o Sol, esse ainda não chegou
E estes são os cheiros e os sons da minha cidade
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